O desenvolvimento de serviços digitais tem constituído uma prioridade estratégica nas bibliotecas de todo o mundo, transformando radicalmente o acesso à informação. Nas bibliotecas nacionais, com acervos históricos de grande significado e dimensão, essa transformação traz consigo o benefício inestimável de fazer desaparecer o dilema de séculos, entre preservar ou dar acesso. Hoje são os acervos mais valiosos e raros, outrora escassamente acessíveis, aqueles que mais rapidamente ficam disponíveis a qualquer pessoa, para qualquer fim, a qualquer dia e hora, em qualquer lugar do mundo.

Mas os desafios para realizar esse objetivo em grande escala são estruturais e assumem, em matéria de meios e de tempo, a proporção gigantesca das próprias coleções. Por isso, qualquer estratégia para otimizar meios, acelerar processos e alcançar massa crítica de resultados passa sempre pela cooperação. Isso é evidente no desenvolvimento recente de serviços coletivos para acesso a conteúdos digitais, de que são exemplo a Biblioteca Digtal Mundial, a Biblioteca Digital Europeia – Europeana, ou, ainda, portais de conteúdos culturais de perfil regional e linguístico, como a Biblioteca Digital do Património Iberoamericano.

É neste contexto que surge o projeto da Biblioteca Digital Luso-Brasileira (BDLB), iniciado em fevereiro de 2014 pelas bibliotecas nacionais do Brasil e Portugal, com o objetivo central de coordenar os esforços de digitalização e de colocar disponível num mesmo ponto de acesso todo o acervo digital das duas instituições. Será um primeiro passo dar nova dimensão, relevância e visibilidade na rede aos conteúdos culturais da uma história e língua comuns.

O projeto concretiza-se num portal que passará a agregar automaticamente a informação das bibliotecas nacionais digitais do Brasil e Portugal, cuja soma de conteúdos alcança já mais de 60 mil títulos correspondendo a cerca de 13 milhões de imagens de materiais bibliográficos em domínio público, de todas as épocas e gêneros.

Para além do objetivo de acesso público, o projeto visa igualmente outros aspectos não menos importantes, como:

Colaborar ativamente na transferência de conhecimento em áreas técnicas com acelerado ritmo de evolução, no que respeita a standards, metodologias e recursos tecnológicos de digitalização, gestão de informação e preservação digital;

Coordenar atividades para evitar a duplicação de digitalização dos mesmos conteúdos, no campo das publicações impressas, otimizando recursos; neste ponto, é altamente relevante para Portugal a colaboração oferecida pela Fundação Biblioteca Nacional para ajudar na digitalização em massa de microfilmes de jornais, de que a BNP tem mais de 15 milhões de imagens;

Estender os processos colaborativos a outras áreas de atividade, como a produção conjunta de exposições e eventos culturais ou técnicos, reforçando os laços institucionais. Neste âmbito, pode desde já destacar-se a digitalização de conteúdos visando um site temático para a celebração dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, em 2015.

A Biblioteca Digital Luso-Brasileira será uma realidade no início de 2015.

Logo que o portal BDLB entre em operação regular, iniciar-se-á uma segunda fase, de expansão, alargando-se aos participantes da COLUSO (Comissão Luso-Brasileira para Salvaguarda e Divulgação do Patrimônio Documental) e a outras entidades e projetos de bibliotecas brasileiras (designadamente da Rede Memória, Projeto Resgate, Real Gabinete Português de Leitura, Biblioteca Mário de Andrade, entre outras) e portuguesas (entidades participantes do agregador RNOD).

Nesta fase prevê-se também a diversificação do portal BDLB em termos da tipologia de conteúdos, adicionando-lhe valências de contextualização das coleções digitais, numa área editorial em que, para além de notícias para divulgação de eventos, serão criados dossiês, exposições, ensaios, artigos, etc.

Para uma terceira fase, a partir de 2016-17, é intenção conjunta das duas bibliotecas nacionais alargar o perímetro da BDLB aos outros países de língua oficial portuguesa que queiram participar. Será uma fase em que se prevê um aprofundamento em termos de estrutura organizacional e técnica, e de alargamento a serviços de formação e apoio que viabilizem a cooperação dos novos países participantes.